sábado, 17 de maio de 2014

“O Êxtase e o Mistério da Eucaristia” (Por Estela Márcia)


O Catecismo vai nos dizer que a Eucaristia é o ‘sacramento da nossa salvação realizada por Cristo na cruz’ de Ação de graças e Louvor ao Pai ‘pela obra da criação’, e que ‘só é possível através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de maneira que o sacrifício de louvor ao Pai ë oferecido por Cristo e com Cristo, para ser aceite em Cristo’. (CES 359-361) A Eucaristia assume a nossa condição humana e nos eucaristiza, como nos diz São Justino (Séc. II - São Justino, Apologia, 1. 65: CA 1, 176-180 /PG 6. 428)

Se pensarmos então que ‘êxtase’ é um estado espiritual de profundo encanto, tomado de intensa adoração e admiração, perceberemos que ao comungarmos do Corpo e Sangue, Alma e Divindade de nosso Senhor Jesus Cristo, experimentamos a graça de nos oferecermos ao Pai, ‘por Cristo e com Cristo, para ser aceite em Cristo’. Adentramos no Mistério da Fé. Com Cristo experimentamos a Cruz, atualizamos com Ele o Mistério que se deu no madeiro do Sacrifício, e com Ele temos a oportunidade de entregarmos as nossas misérias. Porém, se com Ele padecemos, com Ele ressurgimos pelo penhor de Sua Ressurreição. “Eis o Mistério da Fé!” Mistério para ser crido e adorado. Extremado de adoração eucarística, São João Paulo II, o então Papa, escreve-nos: «A Igreja e o mundo têm grande necessidade do culto eucarístico. Jesus espera-nos neste sacramento do amor. Não regateemos o tempo para estar com Ele na adoração, na contemplação cheia de fé e disposta a reparar as faltas graves e os pecados do mundo. Que a nossa adoração não cesse jamais». (João Paulo II, Ep. Dominicae Cenae, 3: AAS 72 (1980) 119; cf. Enchiridion Vaticanum 7, 177.).

Os santos compreenderam se tratar de um Mistério que ultrapassa os sentidos, como escreve São Tomás de Aquino: «A presença do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Cristo neste sacramento, não a apreendemos pelos sentidos, mas só pela fé, que se apoia na autoridade de Deus". (cf. Summa theologiae, 3. q. 75, a. 1. c: Ed. Leon. 12, 156); São Cirilo de Alexandria declara, comentando o texto de São Lucas 22, 19 "Isto é o Meu corpo que será entregue por vós": "Não vás agora perguntar-te se isso é verdade; mas acolhe com fé as palavras do Senhor, porque Ele, que é a verdade, não mente"» (Commentarius in Lucam 22, 19: PG 72, 912).

Comungar é entrar em comunhão com alguém ou mesmo com uma ideia. Portanto, ao comungarmos do Corpo e Sangue de Cristo, comungamos uma Pessoa, comungando não mais apenas Sua ideia, mas o Seu Espírito que em nós, faz-nos outro Cristo. Na dimensão do banquete eucarístico nos faz um com Ele e o Pai: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também o que Me come viverá por Mim» (Jo 6,56-57). Afirma-nos a Igreja: “O que o alimento material produz na nossa vida corporal, realiza-o a Comunhão, de modo admirável, na nossa vida espiritual. A comunhão da carne de Cristo Ressuscitado, «vivificada pelo Espírito Santo e vivificante» (Cf. II Concílio do Vaticano, Decr. Presbyterorum ordinis, 5: AAS 58 (1966)997).

            Como Memorial sacrificial, ‘no sentido que lhe dá a Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus fez pelos homens’ (Cf. Ex 13,3). Na celebração litúrgica destes acontecimentos, eles tornam-se de certo modo presentes e atuais. Porque é o memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias palavras da instituição: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós» e «este cálice é a Nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós» (Lc 22, 19-20). Na Eucaristia, Cristo dá aquele mesmo corpo que entregou por nós na cruz, aquele mesmo sangue que «derramou por muitos em remissão dos pecados» (Mt 26, 28).  (CES 1363.1365) Dessa forma, cabe-nos compreender que apesar de nós, o Mistério se realiza pelas palavras do próprio Cristo, que de antemão, quis comer esta Ceia com os seus.

         Diante de tamanho Mistério, a Igreja espera de seus filhos o verdadeiro ‘culto’ à Eucaristia (Cf. 1378-1381), e nos diz: Na liturgia da Missa, nós exprimimos a nossa fé na presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras maneiras, ajoelhando ou inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor.” E afirma através de Paulo VI: «A Igreja Católica sempre prestou e continua a prestar este culto de adoração que é devido ao sacramento da Eucaristia, não só durante a missa, mas também fora da sua celebração: conservando com o maior cuidado as hóstias consagradas, apresentando-as aos fiéis para que solenemente as venerem, e levando-as em procissão» (Paulo VI, Enc. Mysterium fidei: AAS 57 (1965) 769). Assim, aprofundando o Mistério da presença real de Cristo na Eucaristia, e, tendo tomado ‘consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor, presente sob as espécies eucarísticas’ (CES 1379), a Igreja recomenda que até mesmo o sacrário encontre um lugar de centralidade e importância nas igrejas – ‘de tal modo que sublinhe e manifeste a verdade da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento’. Sem deixar de lado, é claro, a ideia inicial, de que as mesmas se destinam aos enfermos e impossibilitados de participarem da Santa Missa.

Busquemos na visita ao Santíssimo Sacramento, através da adoração silenciosa a força de que precisamos para vencer o pecado e a morte do dia-a-dia, lembrando sempre que a Eucaristia ‘conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo (1392), e que ‘A Igreja e o mundo têm grande necessidade do culto eucarístico. Jesus espera-nos neste sacramento do amor’, como nos disse São João Paulo II.

Estela Márcia

(Fundamento: Catecismo da Igreja Católica)

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