O Prefeito da Congregação para as Igrejas
Orientais, Cardeal Leonardo Sandri
Lembremos irmãos as palavras do Senhor na última terça-feira: “Naquele
tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas
não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.
Ouvistes que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis
alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse-vos isto,
agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.” (Jo
14,27-29)
Compreendamos com estreita atenção a entrevista feita com a participação do Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais no Vaticano. É bastante esclarecedora.
A Terra Santa não é um conjunto de
monumentos, mas um lugar em que as "pedras vivas" são os cristãos,
aos quais Francisco dará nova coragem. Essa é a convicção do prefeito da
Congregação para as Igrejas Orientais, Cardeal Leonardo Sandri, o qual, na
vigília da chegada do Papa Francisco à terra de Jesus, reflete sobre o
significado da peregrinação a partir do momento central, quando o Bispo de Roma
abraçará o Patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I. Entrevistado
pela Rádio Vaticano, eis o que disse o purpurado argentino:
Cardeal Leonardo Sandri:- "A peregrinação do Papa é muito, muito significativa para toda a
Igreja, porque chama novamente ao compromisso incessante, duradouro, sempre, na
Igreja – obviamente com mais insistência após o Concílio Vaticano II – em favor
da unidade da Igreja e, em particular, da relação entre a Igreja Católica e as
Igrejas ortodoxas. Portanto, se evocamos o encontro entre Paulo VI e Sua
Santidade Atenágoras, veem à tona todos estes elementos, o caminho que se fez
até aquele momento e o caminho que se fez depois até agora, em que Francisco , o
Papa, encontra novamente o sucessor de Atenágoras, Sua Santidade Bartolomeu I.
Portanto, será um momento de grande significado para avaliar o caminho feito e
chamar novamente toda a Igreja ao compromisso e, diria, à obrigação de ouvir a
voz de Jesus, "que todos sejam um", mas, em particular, entre a
Igreja Católica e as Igrejas ortodoxas."
RV: O
senhor é responsável pelo dicastério vaticano que se ocupa das Igrejas
orientais: para elas, o que significa este novo abraço entre o Bispo de Roma e
o Patriarca de Constantinopla?
Cardeal Leonardo Sandri:- "O encontro ecumênico entre o Papa Francisco e Sua Santidade
Bartolomeu I se dá, para nós, para os católicos, no contexto de convivência
contínua com os nossos irmãos ortodoxos na vida cotidiana da Terra Santa e dos
países do Oriente Médio. Assim como os católicos devem viver uma dimensão que
eu chamaria real, de vida cotidiana, em favor do diálogo inter-religioso –
porque são eles que vivem lado a lado, por exemplo, com os muçulmanos em todos
estes países e, portanto, devem passar das declarações teóricas à convivência
cotidiana –, do mesmo modo, há essa convivência cotidiana com nossos irmãos
ortodoxos que, devemos dar graças a Deus, é levada adiante com grande espírito
de amor, de compaixão e até mesmo de estudo, por exemplo, em busca de uma data
comum para a Páscoa. Para as nossas comunidades católicas os gestos do Papa
Francisco, os gestos ecumênicos e o encontro com Sua Santidade Bartolomeu I
são, ainda mais, um convite às Igrejas católicas – que são de diferentes ritos
e, em particular, a mais numerosa é a Igreja latina da diocese latina do
Patriarcado de Jerusalém – a viverem concretamente este ecumenismo, mais ainda
com as muitas iniciativas que existem para se ter uma só voz, inclusive diante
dos muitos problemas que os cristãos da Terra Santa devem enfrentar. Podemos
fazer isso sozinhos, mas, fazê-lo juntos dá mais força a nosso compromisso na
vida de todos os dias. Obviamente, a comunidade católica espera o Papa para ter
este entusiasmo não somente em recebê-lo, mas para ter, ainda mais, espírito de
alegria para levar adiante a sua missão do ponto de vista do anúncio evangélico,
com a palavra, com o testemunho e com todas as obras sociais que a Igreja
Católica leva adiante."
RV: Nunca
é demais falar sobre os cristãos na Terra Santa: uma peregrinação do Papa
àquelas terras é uma ocasião privilegiada para recordar a situação deles. O
senhor obteve testemunhos ou reações às vésperas desta viagem do Santo Padre:
Cardeal Leonardo Sandri:- "Ouvimos as palavras do Patriarca Latino de Jerusalém, sua Beatitude
Fouad Twal, mas ouvi e vi também, mediante a imprensa, as reações de fiéis
comuns, pertencentes à Igreja Católica, que esperam do Papa este encorajamento
que vem do Bispo de Roma e que dá à vida na Terra Santa uma característica
verdadeiramente singular. Não podemos reduzir a Terra Santa a uma terra de
monumentos, de museus, de pedras, mas de "pedras vivas" que são os
nossos fiéis católicos e todos os cristãos. Também as peregrinações de nossos
católicos de todas as partes do mundo são para eles um grande encorajamento
para ajudá-los a manter firme este desejo de permanecer e de não fugir da terra
de Jesus."
RV: Ao
apresentar esta viagem, o Papa Francisco disse: irei também para rezar pela paz
na Terra Santa. E os encontros que terá com as autoridades jordanianas,
israelenses e palestinas serão uma ocasião direta e concreta para fazer isso.
Quais suas expectativas a esse respeito?
Cardeal Leonardo Sandri:- "Penso que a presença do Papa na Terra Santa é muito importante para
a paz e não somente para a paz entre israelenses e palestinos, mas para todo o
Oriente Médio. Em particular, penso que a palavra do Papa se estenderá à Síria
e, obviamente, também ao Iraque e aos outros países que vivem situações muito
dolorosas nestes momentos de guerra, de violência, de desrespeito pela
dignidade da pessoa humana, das mulheres, das vítimas... Portanto, para mim é
imperioso que o Papa, que representa Jesus Cristo, leve uma palavra de paz não
somente às autoridades civis dos países visitantes, mas a toda a região do
Oriente Médio. Consequentemente, será também uma mensagem de paz, uma mensagem
de concórdia, de unidade e de respeito pela dignidade humana."
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