"Deus não se cansa de perdoar": esse é o tema da visita pastoral que o Papa Francisco realiza neste sábado às localidades de Campobasso, Castelpetroso e Isernia, situadas na região italiana do Molise.
"Minha visita à região do Molise –
prosseguiu – começa com este encontro com o mundo do trabalho, mas o lugar em
que nos encontramos é a Universidade. E isso é significativo: expressa a
importância da pesquisa e da formação também para responder aos novos complexos
questionamentos que a atual crise econômica apresenta, em nível local, nacional
e internacional. E isso foi há pouco testemunhado pelo jovem agricultor com sua
escolha de especializar-se em agronomia e de trabalhar a terra 'por
vocação'."
"O permanecer camponês na terra não é
ficar fixo em um lugar; é fazer um diálogo, um diálogo fecundo, um diálogo
criativo. É o diálogo do homem com a sua terra que a faz florescer, a faz
tornar-se fecunda para todos nós. Isso é importante. Um bom percurso formativo
não oferece soluções fáceis, mas ajuda a ter um olhar mais aberto e mais
criativo para valorizar melhor os recursos do território."
"Quando vou ao confessionário, agora
não tanto como fazia em
Buenos Aires... "Quando vem uma mãe ou um pai jovem,
pergunto: 'Quantas crianças tem?' E faço outra pergunta, sempre. Você brinca
com suas crianças?... Por favor, percam tempo com suas crianças!"
Papa Francisco encontra os doentes e almoça com os
pobres em Campobasso
Foi particularmente comovente o encontro que teve com uma professora
acometida por um câncer, que queria presentear-lhe uma cruz de ferro,
típica do artesanato da região. O Papa lhe disse: "abençoou-lhe a cruz e
lhe restituo e você deve me prometer que vai rezar por mim com esta cruz. Esse
é o nosso combinado".
Missa do Papa em Campobasso: a caridade é a via
mestra da evangelização
"Em primeiro lugar, somos um povo que
serve a Deus. O serviço a Deus se realiza de vários modos, em particular na
oração e na adoração, no anúncio do Evangelho e no testemunho da caridade. E
sempre o ícone da Igreja é a Virgem Maria."
"Maria partiu às pressas para ir
ajudar a anciã parente Isabel. E assim mostra que o caminho privilegiado para
servir a Deus é servir aos irmãos que precisam".
"Na escola da Mãe, a Igreja aprende a
tornar-se, todos os dias, "serva do Senhor", a estar pronta a partir
para ir ao encontro das situações de maior necessidade, a ser solícita para com
os pequenos e os excluídos."
"O testemunho da caridade é a via
mestra da evangelização. Nisso a Igreja sempre esteve na 'linha de frente',
presença materna e fraterna que partilha as dificuldades do povo. Desse modo, a
comunidade cristã busca infundir na sociedade aquele 'suplemento de alma' que
permite olhar além e ter esperança."
O Papa encorajou todos a "perseverarem
neste caminho, servindo a Deus no serviço aos irmãos, e difundindo, em todos os
lugares, a cultura da solidariedade. É preciso empenho diante de situações de
precariedade material e espiritual, especialmente diante do desemprego, uma
chaga que requer odo esforço e coragem da parte de todos."
"O desafio do trabalho interpela de
modo particular a responsabilidade das instituições, do mundo empresarial e
financeiro. É preciso colocar a dignidade da pessoa humana no centro de toda
perspectiva e de toda ação. Os outros interesses, mesmo que legítimos, são
secundários."
"No centro, acrescentou, está a
dignidade da pessoa humana, porque a pessoa humana é imagem de Deus; a Igreja é
o povo que serve ao Senhor".
"A verdadeira liberdade é dada sempre
pelo Senhor: em primeiro lugar, a libertação do pecado, do egoísmo em todas as
suas formas. A liberdade de doar-se e de fazê-lo com alegria, como a Virgem de
Nazaré que é livre de si mesma".
"Essa é a liberdade que Deus nos
concedeu, e não devemos perdê-la: a liberdade de adorar a Deus, de servir a
Deus e de servi-lo também em nossos irmãos";
"Essa é a liberdade que, com a graça
de Deus, experimentamos na comunidade cristã, quando nos colocamos a serviço
uns dos outros. Sem ciúmes, sem partidos, sem mexericos... Servir-nos uns aos
outros, servir-nos! Então o Senhor nos liberta de ambições e rivalidades que
minam a unidade da comunhão. Liberta-nos da desconfiança, da tristeza – essa
tristeza é perigosa, porque nos desanima, é perigosa, estejam atentos!"
"O Senhor nos liberta do medo, do
vazio interior, do isolamento, dos arrependimentos, das lamentações"; "em
nossas comunidades não faltam atitudes negativas, que tornam as pessoas
autorreferenciais, preocupadas mais em se defender do que em doar-se. Mas Cristo
nos liberta deste soturno existencial", exortou.
"Por isso os discípulos, nós
discípulos do Senhor, mesmo permanecendo frágeis e pecadores – todos o somos!
–, somos chamados a viver com alegria e coragem a nossa fé, a comunhão com Deus
e com os irmãos, a adoração a Deus e a enfrentar com fortaleza as fadigas e
provações da vida."
(Em Campobasso)
Francisco aos jovens: sejam corajosos na esperança e
na solidariedade
"Agradeço-lhes pela numerosa e alegre presença de vocês", disse
Francisco inicialmente. "O entusiasmo e o clima de festa que sabem criar
são contagiosos", ressaltou.
"Com este entusiasmo – acrescentou –, sejam abertos à esperança e
desejosos de plenitude, de dar significado ao futuro de vocês, a suas vidas, a
entrever o caminho adequado para cada um de vocês e a escolher o caminho que
lhes dê serenidade e realização humana."
"De um lado – frisou –, estejam à procura daquilo que realmente
conta, que permanece estável no tempo e é definitivo, estejam em busca de
respostas que iluminem a mente de vocês e aqueça o coração não somente no
espaço de uma manhã ou por um breve trecho de estrada, mas para sempre."
"A sociedade de hoje e seus prevalentes modelos culturais, por exemplo, a 'cultura do provisório' – evidenciou –, não oferecem um clima favorável para a formação de escolhas de vida estáveis com laços sólidos, construídos numa rocha do amor, de responsabilidade, mas na areia da emoção do momento."
Após evocar a dificuldade em nossos dias a se fazer escolhas importantes
e longamente ponderadas, falando sem texto, disse: "Hoje escolho isso,
amanhã aquilo, mas, vou para onde o vento sopra; ou quando acaba meu
entusiasmo, minha vontade, inicio outro caminho... E assim se dá voltas pela
vida, como num labirinto! O caminho não é o labirinto... Não se pode
desperdiçar a vida dando voltas".
"Todavia, caros jovens – disse ainda –, o coração do ser humano
aspira coisas grandes, a valores importantes, a amizades profundas, a laços que
se reforçam nas provações da vida, ao invés de romper-se. O ser humano aspira
amar e ser amado: essa é a nossa aspiração mais profunda."
"A cultura do provisório não exalta a nossa liberdade, mas nos priva
do nosso verdadeiro destino, das metas mais verdadeiras e autênticas. É uma
vida em pedaços. É triste chegar a uma certa idade, olhar o caminho que fizemos
e descobrir que foi feita em diferentes pedaços, sem unidade, sem definição:
tudo provisório..."
"Não deixem que lhes seja roubado o desejo de construir na vida de
vocês coisas grandes e sólidas! É isso que nos leva adiante. Não se contentem
com pequenas metas! Aspirem a felicidade, tenham coragem, a coragem de sair de
vocês mesmos, de arriscar plenamente o futuro de vocês junto a Jesus... Ele nos
ama definitivamente, escolheu-nos definitivamente, doou-se definitivamente a
cada um de nós. É nosso defensor e irmão mais velho e será nosso único juiz."
"Uma palavra que gosto de repetir, porque a esquecemos muito. Deus
não se cansa de perdoar. Isso é verdade, hein?... Somos nós que nos cansamos de
pedir perdão, mas Ele perdoa sempre, todas as vezes que Lho pedimos".
Por fim, o Papa Francisco deixou aos jovens uma veemente exortação: "Tenham
coragem e esperança também ao enfrentar as dificuldades derivantes dos efeitos
da crise econômica. A coragem e a esperança são dotes de todos, mas, em
particular, dos jovens: coragem e esperança."
(Em Castelpetroso)
"A misericórdia de Deus renova o
mundo": esse foi o cerne do discurso que o Santo Padre dirigiu à população
de Isernia, onde em 1215 nasceu Pietro da Morrone, que, eleito Papa, tomou para
si o nome de Celestino V.
Ele e São Francisco de Assis, ressaltou o
Papa, tiveram "um fortíssimo sentido da misericórdia de Deus". Ambos
conheciam a sociedade de seu tempo com suas grandes pobrezas e tinham a mesma
forte compaixão de Jesus pelas muitas pessoas cansadas e oprimidas.
Assim se revela o significado do Ano
jubilar Celestiniano que o Papa declarou aberto e durante o qual "será
escancarada a todos a porta da divina misericórdia": não se trata de uma
fuga da realidade, mas é "a resposta que vem do Evangelho": "O
amor como força de purificação das consciências, força de uma renovação das
relações sociais, força de projetação por uma economia diferente, que no centro
coloca a pessoa, o trabalho, a família, e não o dinheiro e o lucro."
"Este caminho não é o do mundo":
"não somos sonhadores", disse o Papa Francisco, ressaltando, porém,
com veemência, que "este caminho é bom para todos". E como
"sabemos que somos pecadores" e que somos sempre tentados a não
segui-lo, "nos confiamos à misericórdia de Deus" e nos comprometemos
a produzir frutos de conversão e de misericórdia: "Essas duas coisas:
converter-se e fazer obras de misericórdia. Essa é a música, por assim dizer,
deste ano, deste ano jubilar, deste ano Celestiniano."
(Em Isernia)
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