Quem é Teresa de Ávila?
Uma mulher que fala de Deus. Fala de Deus como de Alguém conhecido. Quem
mergulhar na leitura destas suas Obras terá a real impressão de que ela
se encontrou com Ele, antes de se pôr a escrever. Mas nem todos viram a
Santa de Ávila por esse prisma, houve quem dissesse tratar-se de uma mulher
inquieta, andarilha, desobediente e teimosa, que a título de devoção inventava
más doutrinas, andando fora da clausura, contra o que ordenara o Concílio de
Trento e os prelados; ensinando como mestra, contra são Paulo, que ordenara às
mulheres não ensinar.
Teresa de Ávila teve por
inimigos aqueles que viam em nossa monja um perigo permanente: ela se
apresentava como modelo de liberdade e de acesa busca do Absoluto, caminheira
incansável e defensora da verdade. As ações, palavras e escritos dessa mulher
audaciosa perturbaram a tantos, mas iluminaram a muitos outros em seu tempo e
ao longo da história. A sua doutrina tornou-se um texto de indiscutível
sabedoria, onde todos vão beber com segurança, em busca de uma autêntica
experiência de Deus.
Teresa nasceu em 28 de
março de 1515, em Ávila, e morreu em 4 de outubro de 1582, em Alba de Tormes.
Viveu 67 anos, dos quais apenas vinte de intensa atividade como fundadora,
escritora, contemplativa e caminheira de Deus pelas terras da Espanha do século
XVI.
Educada com esmero, ouvia
nas longas noites invernais, ao calor da lareira, a leitura da vida dos santos
mártires, feita por seus pais. Animada por essas leituras, aos 7 anos Teresa
sente a necessidade de fugir para a terra dos mouros, com seu irmão, Rodrigo.
Fuga frustrada. Mas o ideal da fuga — “quero ver a Deus” — torna-se o seu
horizonte de vida.
A morte da mãe, doña
Beatriz, provavelmente em 1529, foi uma experiência cruciante, a partir da qual
ela decide tomar Nossa Senhora por Mãe. Não obstante, confessa, continuou a
viver uma vida medíocre, dedicando-se à leitura de romances de cavalaria, do
que se sentiria culpada por muito tempo.
O pai, preocupado com o
futuro da filha, decide levá-la para o colégio de Nossa Senhora das Graças
(1531), onde Teresa foi recuperando o antigo fervor. A saúde é que se debilita,
e Teresa é forçada a deixar o colégio em 1532 e a voltar para casa. Recuperada
a saúde, pede ao pai para ingressar no Carmelo da Encarnação em Ávila. A recusa
paterna leva-a a tomar uma atitude drástica: no dia 2 de novembro de 1535,
junto com seu irmão, Antônio, que queria ser dominicano, foge de casa e é
aceita entre as Carmelitas.
Em 1538, abandona o
convento para restabelecer-se de uma enfermidade misteriosa que quase a levou à
morte. A leitura do famoso livro Abecedário espiritual, do franciscano
Francisco de Osuña, será para a jovem madre Teresa o início do despertar
espiritual e do amor pela oração. O encontro com as Confissões de Santo
Agostinho constituirá também uma retomada da vida de oração, ante a angústia
que vai tomando forma em sua vida. Nesse processo, a presença de São Pedro de
Alcântara, franciscano austero, um pouco extravagante em penitência, mas
possuidor de grande sabedoria, será para a santa auxílio determinante.
A ideia de assumir como
projeto de vida a regra primitiva do Carmelo foi se tornando lentamente o ponto
de referência para a meditação e vida de Teresa. No dia 24 de agosto de
1562, ela inicia nova vida no pequeno mosteiro de São José, em Ávila. Um desejo
cada vez mais veemente leva Teresa a cuidar da propagação de sua obra. As
fundações se sucedem com rapidez. Visões e graças místicas surgem como estímulo
à doação integral e à radicalidade na vida de oração. O sucesso da iniciativa
teresiana estende-se de forma providencial e maravilhosa, com o auxílio de São
João da Cruz, outro inquieto com a mediocridade do Carmelo. João planejava ir
para a Cartuxa, mas Teresa o conquista para sua obra.
O duro período da reforma
teresiana encontra madre Teresa atenta aos sinais do Espírito, sempre pronta a
trabalhar sem desanimar em favor da obra que iniciara. Nem mesmo o seqüestro e
prisão de João da Cruz no cárcere conventual de Toledo abatem o espírito dessa
mulher, totalmente entregue à ação de Deus, tornada instrumento em Suas mãos.
Ao redor da contemplativa carmelita encontramos um séquito de discípulos que
passa a seguir sua doutrina. Assessorada por teólogos, doutos e sábios,
consegue fugir à caçada da Inquisição. Problemas internos à reforma dos
descalços a preocupam, mas sua personalidade de madre e fundadora não permite
que dissensões internas entravem o assentamento da obra. Teresa, obediente à
Igreja, questionadora da Igreja, submissa à autoridade, procura caminhos para
levar à frente os desígnios de Deus, defendendo, acima de tudo, a felicidade de
ser filha da Igreja. Como tal, falece em 1582.
Com seus escritos, Teresa
rompe os limites do mundo dos carmelitas descalços e das monjas carmelitas
descalças. Seu nome, sua mensagem ultrapassam a Igreja e conquistam pessoas de
todas as raças e religiões, em busca do Infinito e do desejo de Deus. Não se pode hoje
aprofundar o tema da necessidade do encontro do homem com Deus sem recorrer à
experiência e doutrina teresianas. Os escritos teresianos se configuram como
incomparável fonte de esperança. E Teresa tornou-se mestra e doutora.
O povo, que, com suas
intuições, normalmente precede a Igreja, desde o início descobriu em Teresa a
mestra dos espirituais. Paulo VI, no dia 27 de setembro de 1970, a proclamou
solenemente doutora da Igreja.
A melhor forma de
compreender a figura dessa mulher é aproximar-se de seus escritos em atitude de
simplicidade, sem esquecer que Madre Teresa fala mais ao coração que à inteligência.
A sua afetividade encontra pleno transbordamento no íntimo diálogo com Deus. O
método de oração teresiano é o caminho que devemos seguir para obter a água da
fonte para regar o jardim de nossa alma.
Nada
te turbe, nada
te espante.
Todo
se pasa, Dios
no se muda.
La
paciência todo
lo alcanza.Quien a Dios tiene nada le falta.
Sólo Dios basta!
Estela Márcia (Prefácio do Livro da Vida. Por Frei Patrício Sciadini,
OCD)
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