quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Poesia de Santa Teresa sobre o Natal do Senhor


 
Para a Natividade de Jesus - POESIA "XIII", de Santa Teresa de Jesus
 
Já Deus nos há dado
O amor: assim, pois,
Não há que temer,
Morramos os dois.
Seu Único Filho
O Pai nos envia:
Nasce hoje na lapa,
Da Virgem Maria.
O homem — que alegria!
É Deus: assim pois,
Não há que temer,
Morramos os dois.
— Olha bem, Vicente:
Que amor! e que brio!
Vem Deus, inocente,
A padecer frio;
Deixa o senhorio
Que tem; assim, pois,
Não há que temer,
Morramos os dois.
— Mas como, Pascoal,
Tem tanta franqueza,
Que veste saial,
Deixando riqueza?
Mais quer à pobreza!
Sigamo-lo pois:
Se já vem feito homem,
Morramos os dois.
Mas qual sua paga
Por tanta grandeza?
— Só grandes açoites
Com muita crueza.
— Que imensa tristeza
Teremos depois!
Ah! se isto é verdade,
Morramos os dois.
— Mas como se atrevem,
Sendo Onipotente?
— Será morto um dia
Por perversa gente.
— Se assim é, Vicente,
Furtemo-lo pois:
— Não vês que o deseja?
Morramos os dois!
 

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