(7h da manhã do 6º dia após
a partida)
Entre tantos pensamentos que tenho tido, ao
longo destes últimos seis dias da partida para o encontro com Deus de minha
pérola preciosa, nesta manhã de domingo, em oração, o bom Deus - e a Virgem
Maria, com certeza na intercessão, recordou-me da minha infância. E que
infância! Gostosa de lembrar – como na vida da maioria das pessoas que conheço,
e que se perdem em alegria e emoção nas suas lembranças.
Porém, nesta manhã, ao recordar minha
infância, ela tinha cheiro. Cheiro? Cheiro do quê? Cheiro de amamentação.
Cheiro de Mãe. Sim, pois, fugindo as expectativas nutricionais, tive a alegria
de ser amamentada até os três anos e seis meses de idade - tempo em que mamãe
ainda trabalhava na fábrica de tecidos, Companhia América Fabril.
Recordo-me que minha mãe chegava no horário
de seu intervalo para “almoço” às 9:30h, pois entrara às 5h, e sairia às
13:30h. Que horário esperado. Quando a cirene da fábrica tocava, lá estava eu,
menininha de três aninhos, esperando seu cheirinho com gosto de alimento.
Afinal, esta criança já se alimentava com tudo mais que uma criança de três
anos já se alimenta, então, a amamentação não era mais nutricional, mas sim
afetiva. A amamentação era o elo entre as duas, mãe e filha. Ligação que fez
das duas, ao longo de cinquenta e um anos, um elo de amizade plenamente
compreensível. Elo que criou dependência de ambas as partes.
O interessante é que nesta manhã, quando o
bom Deus permitiu-me tal recordação, a memória olfativa se misturava com a
memória reflexiva, como tantas vezes já foram sentidas. Mas hoje, neste momento
de saudade, esta lembrança misturou-se com a espiritualidade e afetividade de
inúmeros filhos e mães, mas a que impulsionou-me – com certeza inspirada pelo
Espírito Santo de Deus, meu adorado companheiro de viagem – foi a relação de
afetividade de Jesus Menino e sua doce Mãe, a Virgem Maria.
Se em meu olfato está perene o cheiro de
minha mãe, e aquele colóquio de amor e ternura, de olhares se entrecruzando
durante a amamentação, penso que com Jesus, quando homem em suas caminhadas, de
idas e vindas da Galiléia para a Judéia, não tenha sido diferente. O laço da
amamentação de uma mãe com um filho é único, e se traduz na missão que ela terá
em educá-lo e em mostrá-lo o caminho a seguir.
No coração da Virgem Maria estavam presentes
as palavras do anjo, que continuamente a fazia recordar-se da missão de seu
Filho: “Eis que conceberás e
darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á
Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará
eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim (...) O Espírito Santo descerá
sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente
santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.” (Lc 1,31-33.35)
Ser e fazer aquilo que Deus quer, era aquilo
que fazia parte da vida da Virgem Mãe. Ser
e fazer aquilo que Deus quer, é a missão de todas as mães. E com isso, agradeço
ao bom Deus por inspirar nas mães esta doce certeza de ‘Ser e fazer aquilo que
Deus quer’. E agradeço, neste momento em que vivemos, da recente partida, a mãe
que me amamentou, e deixou em mim o seu cheiro, o cheiro da amamentação e da
responsabilidade de ser mãe.
Como a Virgem Maria, eu creio em tudo o que o
Senhor inspira no coração de uma mãe, e que em mamãe se deu na educação de cada
um de nós seus filhos. Afinal, em nossa educação estava sempre presente, entre
ela e nós, o santo Temor de Deus, que nos faz amar e respeitar a Deus sobre
todas as coisas, reconhecendo o valor filial divino, para que depois sim
reconhecer o valor filial humano.
Olho no olho, momento da amamentação
(duradoura ou não), momento do ninar para dormir, momento do soninho no
cantinho da cama, são momentos de colóquio maternal jamais esquecido pelos
filhos biológicos ou não, pois trazem em si uma missão, repito: A missão de
serem e fazerem a Vontade de Deus. Encerro assim com os exemplos de nosso
Senhor Jesus Cristo, que tendo sido amamentado, cuidado e ensinado por sua doce
Mãe, jamais perdeu de vista aquilo que ela, com toda certeza, repetiu-lhe
muitas vezes. Já na fase adulta, após ensinar a oração do Pai-Nosso aos discípulos que
queriam aprender a orar, e falar-lhe da importância do saber pedir e suplicar,
com insistência, para receber do Pai do Céu o que for necessário, Jesus
manifesta o seu poder divino expulsando um demônio mudo. Enquanto ele assim
falava, uma mulher levantou a voz do meio do povo e lhe disse: “Bem-aventurado
o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram!” (Lc 11,27) Com toda
certeza, Jesus o sabia, e recordou-se, mas haveremos de lembrar que aquele elo
com sua Mãe se traduziria na importância de sua missão, e que já estava sendo
colocada em prática, e Jesus replicou: “Antes bem-aventurados aqueles que ouvem
a palavra de Deus e a observam!” (Lc 11,28) Afinal, a maternidade traz em si
uma missão, a de apontar ao “fruto do seu ventre” aquilo que precisa ser
cumprido. Assim, encerro dizendo que “O
cheiro que as Mães têm”, é mais que humano, pois trata-se de um cheiro divino,
cheio da presença de Deus.
Estela Márcia (8:35h, 06 de abril de 2014)
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