Chega-se
ao silêncio de todo o nosso ser, silêncio que evita o barulho, o desgaste
físico e mental, não de um dia para o outro, mas lentamente. È caminho. Não devemos forçar o passo, porque
cansaremos com facilidade e nunca chegaremos à meta. Mas “devagar se vai ao
longe”. Toda a nossa vida interior é
silêncio, e Deus, nos recorda, João da Cruz, pronunciou uma única palavra, que
é seu Filho, seu Cristo. Ele a pronunciou em silêncio e é em silêncio que ela
deve ser ouvida.
A mística Maria Amada de Jesus, carmelita
descalça, nasceu na Normandia, em 1839 e faleceu em 1874. Fez-se carmelita em 1859, teve noites escuras
duras e terríveis. Escreveu os DOZE
DEGRAUS DO SILÊNCIO, que vamos comentar um pouco. São caminhos que podem curar
nossas feridas, as doenças abertas pelo BARULHO. (Comentário de Frei Patrício, Ocd.)
PRIMEIRO DEGRAU DO SILÊNCIO: Falar pouco com
as criaturas e muito com Deus.
È o segredo para começar a cura pelo silêncio:
Redescobrir Deus como amigo, como médico, como aquele que vem em nosso
socorro, nos ESCUTA a cada momento e nos convida a entrar em comunhão com Ele.
O falar muito com as criaturas nos leva a uma hiperagitação.
O silêncio da Prudência e da Sabedoria é o silêncio que devemos ter nas
conversações, nos encontros.
Não é raro que falemos mais forte com “nossos silêncios” que com as
palavras.
Há silêncios que apavoram, gritam e condenam o palavreado vazio de
tantas pessoas.
SEGUNDO DEGRAU DO SILÊNCIO: Silêncio no trabalho, silêncio
nos movimentos.
Vimos que o silêncio não é, de forma alguma, mutismo, alienação,
afastamento dos outros, porque não somos capazes de dialogar ou de entrar em
comunhão. É uma atitude interior que nos leva saber fazer tudo com amor e com
recolhimento.
Por que deixar que a agitação e o barulho entrem em nós e coloquem nossa
morada interior numa confusão insuportável?
Os mestres da vida interior nos ensinam que tudo deve ser feito com
calma, com silêncio, evitando qualquer barulho que possa perturbar a nós mesmos
e aos outros.
<< SILÊNCIO no andar, SILÊNCIO dos olhos, dos ouvidos, da voz.
SILÊNCIO de todo o exterior, preparando a alma a unir-se a Deus. >>
TERCEIRO DEGRAU DO SILÊNCIO: Silêncio da imaginação.
A imaginação é boa, é um dom de Deus e devemos aproveitá-la na nossa
oração e na nossa memória, para reviver momentos de ação de graças, de alegria
e também de dor, de pecado para purificar-nos cada vez mais e estarmos prontos
para receber a graça da fonte de Deus que jorra em nós. Porém , a
imaginação, pode tornar-se uma fera violenta, que, como tempestade, nos leva
longe e sempre fora da nossa casa interior, quando nos faz perder o contato com
a vida de cada dia, isso se faz terrível
e doloroso. Aí adoecemos na alma, nos tornamos tristes, preocupados.
QUARTO DEGRAU DO SILÊNCIO: Silêncio da memória.
Nada de mais belo que a nossa memória. Jesus nos mandou celebrar Sua
Memória, torná-Lo Presente, Vivo e Real no Sacramento da Eucaristia.
A memória não é o reviver da imaginação, mas o recordar e, com força da
vontade, tornar presente. É uma mística Eucarística que vivemos no nosso
dia-a-dia. É necessário silenciar a memória para que possamos não nos deixar
alienar da nossa realidade cotidiana. Esvaziar-nos de nós mesmos.
A MEMÓRIA DEVE SER RECONHECIMENTO, AÇÃO DE GRAÇAS por tantas
Misericórdias que Deus tem feito em nós.
Vale a pena meditar com o canto da memória agradável e vivo do
MAGNIFICAT, por exemplo.
Recomendação: Não se deixe influenciar pelas suas memórias, ou se condicionar
por elas.
Não podemos viver de saudosismo, é necessário viver de vida, de
esperança e de amor.
Nossa memória deve ser vivida, atualizada, e o é assim no Mistério da
Eucaristia de Cristo, que nos dá nova força para caminharmos para nosso futuro.
QUINTO DEGRAU DO SILÊNCIO: Silêncio com as criaturas.
Falamos demais. Isso prejudica a saúde física, psíquica, espiritual.
Não importa do que falamos. O que importa é falar e falar muito.
Parece ser um impulso incontrolável.
Temos uma tendência de fazer monólogos longos, que nunca irão preencher
e curar as doenças terríveis da solidão humana.
É necessário sim, ter uma lembrança das criaturas de Deus.
Sua Criação traz em si mesma a figura do Criador, do Senhor. A Natureza
nos fala e nós podemos falar com Ela. Como não lembrar a voz das Criaturas do
Cântico de Daniel (Dn 3)?
SEXTO DEGRAU DO SILÊNCIO: O Silêncio do Coração.
Somos levados a avançar para as águas mais profundas do silêncio.
É necessário entrar agora no silêncio do coração.
Silenciando tudo o que está fora
de nós e dentro de nós.
Nada pode perturbar nossa paz
interior; nem as criaturas, nem a memória, nem a imaginação.
Tudo é paz. Deixemos, neste caso, tomar-nos pela mão da Virgem Maria e
por Cristo Jesus, onde tudo é silêncio.
SÉTIMO DEGRAU DO SILÊNCIO: Silêncio da natureza.
Silenciar a natureza humana que vive revoltada com o mínimo vento de
dor, de contrariedade, é uma obra lenta, fruto de paciência e de tempo.
Não devemos nos revoltar nem achar que tudo isso se dá à toque de caixa.
Temos de saber que sem um grande esforço nunca ficaremos curados de
nossas feridas físicas e espirituais.
Devemos silenciar o orgulho, o amor-próprio ferido, nos afastar das
situações que podem nos levar a críticas inúteis e desfavoráveis aos outros e a
nós mesmos.
“De toda palavra ciosa que pronunciarmos, daremos conta a Deus”.
Devemos saber dominar o desejo de vingança, muitas vezes travestido de
justiça, de zelo e de verdade.
OITAVO DEGRAU DO SILÊNCIO: Silêncio do espírito.
É um ponto muito importante para não adoecer:
... de orgulho, de superioridade, de “ insubstitutividade”, de “ tudo
eu faço e sou melhor”- doença terrível,
dentro e fora da Igreja.
O silêncio do espírito nos leva a agir somente pela Glória de Deus, pois
para quem busca a viver a santidade não pode existir duplicidade de vida.
Está comprovado que a “ambiguidade de vida” é fonte de sofrimento e
doenças físicas e psíquicas.
Como pode viver tranquilo e com saúde quem trai os amigos, a esposa, o
esposo, ou vive com constante medo do que faz, ou ainda, aqueles que não
cumprem com os seus compromissos ou com a palavra dada?
É o silêncio do espírito que devemos procurar na paz da nossa
consciência mais íntima e profunda do
ser.
NONO DEGRAU DO SILÊNCIO: Silêncio do julgamento.
Não julgar é também um mandamento de Jesus: “não julgueis e não sereis
julgados”.
Para que deixar a ânsia e a angústia de julgar entrar em nosso coração?
Silenciar o julgamento não é renunciar a emitir nossas opiniões. Estas devem
ser conformes à verdade e nada mais.
Não devemos impor nosso ponto de vista.
Quantas vezes a imposição da nossa maneira de pensar e de julgar, nos
levam ao isolamento, à marginalização ou ao sofrimento físico e espiritual.
DÉCIMO DEGRAU DO SILÊNCIO: Silêncio da vontade.
É o silêncio nas angústias do coração e nas dores d´alma.
É o silêncio de uma alma favorecida por Deus e que, sentindo-se
repelida, não pronuncia estas palavras como: “Por quê? Até quando?”. É o
silêncio do abandono...
Silêncio ante a severidade do olhar de Deus... Silêncio sob o peso da Mão
Divina.
Silêncio cuja única queixa é a do amor.
É o silêncio da Crucifixão. É o silêncio dos mártires. É o silêncio da
agonia de Jesus.
Enquanto essa vontade humilde e livre - verdadeiro holocausto de amor -
procura aniquilar-se para glorificar o Nome de Deus, Deus a transforma
em sua vontade.
DÉCIMO PRIMEIRO DEGRAU DO SILÊNCIO: Silêncio consigo mesmo.
Uma das piores doenças é “monologar consigo mesmo”, falar e, falar
consigo mesmo dos próprios problemas, dificuldades, dramas, traumas e doenças.
Torna-se um círculo vicioso a partir do qual não conseguimos ver a vida
com os olhos límpidos e transparentes.
Para que ruminar o dia todo e a noite inteira as situações conflitantes da
vida?
Não é melhor dar a volta por cima e lançar-se nos braços de Deus, e
rezar com calma o Salmo 130?
Este Salmo é do silêncio interior, fruto de ascese e de oferta de si
mesmo a Deus.
DÉCIMO SEGUNDO DEGRAU DO SILÊNCIO: O Silêncio com Deus.
O silêncio com Deus consiste em ter a certeza no nosso coração do amor
do Senhor, de não duvidar Dele, mesmo
que nada sintamos.
É deixar-se amar por Ele. É talvez o silêncio mais doloroso do ser
humano, que em determinados momentos se sente abandonado por todos e até mesmo
por Deus.
É o grito que surge dentro de nós: “Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste? (Sl 21)”.
Esse grito não é falta de fé. Ele é à força da natureza que se rebela diante
da dor, da solidão, da doença. Mas Deus sempre vem em nosso socorro. Confirmamos
esta experiência com os textos:
Dt 6, 4-5/Is 43, 1-5.
“O Barulho Adoece e o Silêncio Cura” ( Frei Patrício )
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