A partir do Batismo de Jesus demos
início ao Tempo Comum na Liturgia. Ouvimos então, o Pai dizer a Jesus, no seu
Batismo: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”. (Mc 1,11),
seguida da profecia de João Batista que falara aos seus discípulos que viria
alguém mais forte e digno do que ele, que nem as suas sandálias ele seria capaz
de desamarrar, e ainda, que traria o complemento para o batismo que ora
realizava, de conversão. Esse daria o Batismo para todos que se convertessem,
porém, aceitassem essa nova proposta de vida, e então, os daria do Seu próprio
Espírito (conf. Mc 1,7). Assim, fomos interpelados a pelo Senhor a respeito
desta vida nova, trazida no Seu Natal, apresentada aos reis e pastores na
Epifania, mas que agora, se tornara realidade em nossas vidas, a partir do
nosso Batismo. Questionamento a propósito da verdadeira conversão. Conversão
que nos permite viver da unção do Espírito do Senhor, que enche e plenifica a
alma por Ele embevecida. Portanto, neste Primeiro Domingo do TC, fomos
convidados a rever a busca diária de nossa ‘Conversão’- núcleo central do nosso
Batismo.
No domingo seguinte a este (2º), a
liturgia, apresentou-nos o convite do Senhor aos seus primeiros discípulos ao
Seu seguimento (Jo
1,35-42), a partir da certeza de que eles estavam à procura de um Mestre para
as suas vidas. Assim, ao que perguntaram os discípulos sobre a sua vida, Jesus
foi muito direto: “Vinde ver” (v. 39). E com essa realidade,
eles viram não só a Sua vida, mas também a Sua Missão. Reconheceram que Ele era
o ‘Cordeiro’ de Deus, ainda que diante da Cruz, mas era ali, no ‘ver’ que Jesus
lhes propôs que cada um pôde dar sentido ao seu batismo. A nós também, chegou
esta Presença – de Jesus, Mestre e Senhor. A nós também foi dado a conhecer a
Sua vida. Porém, o que estamos fazendo com esse chamado? Estamos participando
de Sua vida, de Sua mesa, do relacionamento dos Seus amigos e irmãos, mas
sobretudo, da Filiação Eterna do Pai que Ele nos apresentara também. E qual
está sendo a nossa resposta? Pensemos.
Incansavelmente, Jesus não se
contenta com o silêncio dos discípulos, e lhes propõe: “Segui-me e eu farei de
vós pescadores de homens”. (Mc 1,17) Aos que ouviram o Senhor lhes fez uma
promessa, na condição de ‘segui-Lo’. E atualizou dessa mesma forma para nós, em
nosso silêncio ao nosso chamado (3º domingo).
Demonstrando na prática aos Seus
discípulos, Jesus, começou os ensinamentos a partir da cidade de Cafarnaum, com
atividades que iam da explicação das Escrituras até a intimidação das obras das
trevas, quando liberta ‘um homem possuído pelo espírito mau’. Com a autoridade
dada pelo Pai, o Senhor concede aos seus e aos que se tornariam seus, um
‘ensinamento novo’. O ensinamento pleno de ‘autoridade’ do Céu: ‘“O que é isto?
Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e
eles obedecem!” E a fama de Jesus logo se espalhou por toda a parte, em toda a
região da Galileia.’ (Mc 1,26-28) Assim, Jesus, deu aos Seus, e a nós, o novo
povo de Deus, a certeza de Seu poder e autoridade, convidando-nos ao
comprometimento com os Seus ensinamento. Ensinamento nas Escrituras e através
da Sua Igreja. Ensinamentos na vida e nas suas extensões humanas e acadêmicas,
com o grande intuito de fazer-nos testemunhas fiéis de ‘tudo’ que Ele veio
fazer e trazer, como Missão de enviado do Pai. Cafarnaum hoje são nossas
paróquias e dioceses, bairros e cidades. Cafarnaum hoje, por assim dizer e
confirmar, é a nossa Igreja, presente no mundo revelando o Caminho, a Verdade e
a Vida que conduzirá ao Pai, o próprio Jesus.
Após fazermos uma retrospectiva
deste Tempo Comum – Tempo de Conversão e Esperança, Fé e Compromisso, a
liturgia deste 5º domingo do TC (Mc 1,29-39), nos propõe um voltar-se para o Senhor,
o seu comportamento e suas atitudes, para aprendermos algo sempre novo para
muitos: a oração silenciosa. Esse silêncio de Jesus nos propõe uma atitude
nova. É uma busca de profundidade espiritual: “De madrugada, quando ainda estava
escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (v. 37). É um silêncio de encontro. É um
silêncio de renovação amorosa. É um silêncio de comunhão. Com esse silêncio Ele
nos ensina que, através de cada retirada que fazia para estar a Sós com o Pai,
ele encontrava a importância de estar ouvindo a vontade do Pai.
Aprendamos com o silêncio de Jesus. Silêncio que propõe um
ensinamento de introspecção, de retorno à própria alma para encontrar-se com
“Aquele que sabemos que nos ama” – vai dizer Santa Teresa de Jesus[1].
Silêncio que reabastece a alma e o seguimento. Silêncio pedagógico, que ensina
por onde andar e o que fazer diante dos inúmeros apelos da vida e da caminhada.
Silêncio que fala e escuta. Silêncio que cura e liberta. Silêncio que converte
e salva. Silêncio que nos torna mais agradáveis a Deus.
Se quisermos compreender o sentido de nossas vidas,
encontrar solução para os nossos desafios, renovação para os nossos projetos,
abastecimento para a nossa missão, discernimento para a nossa vocação,
precisamos nos retirar, diariamente, e silenciar para ouvir a Deus, e
compreender aquilo que Ele deseja, qual a sua vontade e qual a direção a seguir.
Estela Márcia, 08.02.2015
[1] Doutora
da vida de oração. Fundadora da Ordem Carmelita Descalça dos Irmãos da Bem
Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.
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