domingo, 8 de fevereiro de 2015

‘Precisamos nos retirar, diariamente, como Jesus, para ouvir a vontade de Deus’.



 
            A partir do Batismo de Jesus demos início ao Tempo Comum na Liturgia. Ouvimos então, o Pai dizer a Jesus, no seu Batismo: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”. (Mc 1,11), seguida da profecia de João Batista que falara aos seus discípulos que viria alguém mais forte e digno do que ele, que nem as suas sandálias ele seria capaz de desamarrar, e ainda, que traria o complemento para o batismo que ora realizava, de conversão. Esse daria o Batismo para todos que se convertessem, porém, aceitassem essa nova proposta de vida, e então, os daria do Seu próprio Espírito (conf. Mc 1,7). Assim, fomos interpelados a pelo Senhor a respeito desta vida nova, trazida no Seu Natal, apresentada aos reis e pastores na Epifania, mas que agora, se tornara realidade em nossas vidas, a partir do nosso Batismo. Questionamento a propósito da verdadeira conversão. Conversão que nos permite viver da unção do Espírito do Senhor, que enche e plenifica a alma por Ele embevecida. Portanto, neste Primeiro Domingo do TC, fomos convidados a rever a busca diária de nossa ‘Conversão’- núcleo central do nosso Batismo.
            No domingo seguinte a este (2º), a liturgia, apresentou-nos o convite do Senhor aos seus primeiros discípulos ao Seu seguimento (Jo 1,35-42), a partir da certeza de que eles estavam à procura de um Mestre para as suas vidas. Assim, ao que perguntaram os discípulos sobre a sua vida, Jesus foi muito direto: “Vinde ver” (v. 39). E com essa realidade, eles viram não só a Sua vida, mas também a Sua Missão. Reconheceram que Ele era o ‘Cordeiro’ de Deus, ainda que diante da Cruz, mas era ali, no ‘ver’ que Jesus lhes propôs que cada um pôde dar sentido ao seu batismo. A nós também, chegou esta Presença – de Jesus, Mestre e Senhor. A nós também foi dado a conhecer a Sua vida. Porém, o que estamos fazendo com esse chamado? Estamos participando de Sua vida, de Sua mesa, do relacionamento dos Seus amigos e irmãos, mas sobretudo, da Filiação Eterna do Pai que Ele nos apresentara também. E qual está sendo a nossa resposta? Pensemos. 
            Incansavelmente, Jesus não se contenta com o silêncio dos discípulos, e lhes propõe: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. (Mc 1,17) Aos que ouviram o Senhor lhes fez uma promessa, na condição de ‘segui-Lo’. E atualizou dessa mesma forma para nós, em nosso silêncio ao nosso chamado (3º domingo).
            Demonstrando na prática aos Seus discípulos, Jesus, começou os ensinamentos a partir da cidade de Cafarnaum, com atividades que iam da explicação das Escrituras até a intimidação das obras das trevas, quando liberta ‘um homem possuído pelo espírito mau’. Com a autoridade dada pelo Pai, o Senhor concede aos seus e aos que se tornariam seus, um ‘ensinamento novo’. O ensinamento pleno de ‘autoridade’ do Céu: ‘“O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” E a fama de Jesus logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.’ (Mc 1,26-28) Assim, Jesus, deu aos Seus, e a nós, o novo povo de Deus, a certeza de Seu poder e autoridade, convidando-nos ao comprometimento com os Seus ensinamento. Ensinamento nas Escrituras e através da Sua Igreja. Ensinamentos na vida e nas suas extensões humanas e acadêmicas, com o grande intuito de fazer-nos testemunhas fiéis de ‘tudo’ que Ele veio fazer e trazer, como Missão de enviado do Pai. Cafarnaum hoje são nossas paróquias e dioceses, bairros e cidades. Cafarnaum hoje, por assim dizer e confirmar, é a nossa Igreja, presente no mundo revelando o Caminho, a Verdade e a Vida que conduzirá ao Pai, o próprio Jesus.
            Após fazermos uma retrospectiva deste Tempo Comum – Tempo de Conversão e Esperança, Fé e Compromisso, a liturgia deste 5º domingo do TC (Mc 1,29-39), nos propõe um voltar-se para o Senhor, o seu comportamento e suas atitudes, para aprendermos algo sempre novo para muitos: a oração silenciosa. Esse silêncio de Jesus nos propõe uma atitude nova. É uma busca de profundidade espiritual: De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (v. 37). É um silêncio de encontro. É um silêncio de renovação amorosa. É um silêncio de comunhão. Com esse silêncio Ele nos ensina que, através de cada retirada que fazia para estar a Sós com o Pai, ele encontrava a importância de estar ouvindo a vontade do Pai.  
Aprendamos com o silêncio de Jesus. Silêncio que propõe um ensinamento de introspecção, de retorno à própria alma para encontrar-se com “Aquele que sabemos que nos ama” – vai dizer Santa Teresa de Jesus[1]. Silêncio que reabastece a alma e o seguimento. Silêncio pedagógico, que ensina por onde andar e o que fazer diante dos inúmeros apelos da vida e da caminhada. Silêncio que fala e escuta. Silêncio que cura e liberta. Silêncio que converte e salva. Silêncio que nos torna mais agradáveis a Deus.
Se quisermos compreender o sentido de nossas vidas, encontrar solução para os nossos desafios, renovação para os nossos projetos, abastecimento para a nossa missão, discernimento para a nossa vocação, precisamos nos retirar, diariamente, e silenciar para ouvir a Deus, e compreender aquilo que Ele deseja, qual a sua vontade e qual a direção a seguir.
 
Estela Márcia, 08.02.2015

                                                                                                                



[1] Doutora da vida de oração. Fundadora da Ordem Carmelita Descalça dos Irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.

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