domingo, 22 de fevereiro de 2015

PEREGRINAÇÃO QUARESMAL COM SANTA TERESA DE JESUS - Fr. Alzinir F. Debastiani OCD

                 Neste ano comemorativo do V Centenário do nascimento de Santa Teresa, nada mais aconselhável do que recordar alguns de seus ensinamentos para o crescimento pessoal nas virtudes, com a consequência de um maior empenho pessoal e comunitário no serviço a Deus e ao próximo, objeto da verdadeira conversão que nos pede o Tempo Quaresmal. É um tempo de graça (2 Cor 6,2) para crescer no amor, pelo qual vencemos a globalização da indiferença pessoal e social (cf. Mensagem Papa Francisco para Quaresma 2015). O sentido da ascese cristã, da luta contra o egoísmo, nos oferece a Santa Madre: “... eu gostaria que essas grandes virtudes [amor fraterno, humildade e desapego] fossem objeto do nosso particular esforço, tornando-se a nossa penitência, porque, como já sabeis, não aprovo penitências excessivas, que, se forem feitas sem discernimento, pode provocar malefícios à saúde. Neste caso, porém, não há o que temer, já que, por maiores que sejam, as virtudes interiores não privam o corpo de suas forças para servir à religião, antes fortalecendo a alma. E, como eu disse outras vezes, podemos acostumar-nos a coisas muito pequenas para alcançarmos a vitória nas grandes” (S. Teresa de Jesus, Caminho de perfeição 15,3). O acostumar-se a coisas muito pequenas joga um papel fundamental no crescimento espiritual, já que no dia a dia fazemos tantas pequenas coisas no trabalho, na família, mas sem colher ou dar um sentido cristão a estas coisas, que talvez as façamos rotineiramente. Cabe-nos, então, viver as mesmas ocupações diárias de forma vigilante e do ponto de vista da fé, da esperança e da caridade. Como? A Santa Madre vem ao nosso encontro para dizer-nos que “o verdadeiro amante em todas as partes ama e sempre se recorda do amado” (Fundações 5,16), pois o perfeito amor consiste em contentar a quem amamos (id., 5,10) nas coisas que fazemos. Assim, vivendo na presença de Deus, à luz da fé, as ocupações cotidianas são ocasiões para participar nos ofícios de Cristo pelo exercício do ofício sacerdotal, através do qual prestamos culto a Deus por meio das ocupações da vida familiar, da vida de trabalho e estudo e nos relacionamentos sociais; do ofício profético, pois o fim de tudo o que fazemos é a glória de Deus; do ofício real, pois mostra que cada pequeno gesto, mesmo escondido, feito por amor a Cristo e ao próximo, colabora na edificação do Reino de Deus. Por meio delas nos associamos a Cristo Jesus e vamos transformando ações banais em ações divinas, segundo a B. Elisabeth da Trindade (cf. Céu na terra, 40). Muitas vezes torna-se fácil permanecer um dia ou mesmo algumas horas sem alguma refeição por penitência. Mais difícil poderia ser o estar um dia sem usar a internet, sem assistir a novela preferida ou programa de TV, ou mesmo não comentar alguma fraqueza de um colega ou familiar, para dedicar-se à oração ou ao serviço de algum enfermo ou mesmo na visita a alguma pessoa anciã ou afastado da Igreja ou da Comunidade... Creio que seja importante nesta Quaresma escutar este conselho de S. Teresa: prestar atenção às virtudes e fazer delas objeto de nosso particular esforço, tornando-se nossa penitência. E sabemos que o empenho diário para vivê-las exige esforço, já que o exercício das virtudes é sinal de uma fé e oração vivas, transformadas em obras concretas para o bem dos outros. Perguntemo-nos então: como está minha vivência do amor fraterno, da humildade e do desapego em meio às ocupações diárias na família e em outros lugares? O amor fraterno antepõe o outro a mim; busca o seu bem e o seu crescimento. Favorece o que é bom e interessa-se pelo bem do próximo. É um amor que se nutre do encontro com Cristo, que se une ao sofrimento e necessidades do outro. Ao mesmo tempo é um amor humilde, o qual não olha o outro com superioridade, mas que vê a sua possibilidade de ajudar como um dom da graça divina. É um amor que supera a tentação de desistir diante da enormidade dos problemas, mas é capaz de fazer o que lhe é possível, de dar a sua contribuição, mesmo que seja pequena, para aliviar em alguma coisa o sofrimento de quem lhe está próximo. O resto confia ao Senhor da História, que é quem a conduz (cf. Deus caritas est, 34-35) e que na Cruz assumiu o último lugar da humanidade. Tudo isso nos conduz ao desapego de nós mesmos, do egocentrismo, tentação tão presente em tudo o que habitualmente fazemos. Se conseguirmos encarnar na vida um pouquinho mais destas virtudes neste Tempo Quaresmal, estaremos certos de que haverá mudanças na própria vida e na vida familiar e de Comunidade, transformando-as em ilhas de misericórdia por meio da oração, de gestos concretos e de uma sincera conversão. Assim estaremos agindo contra a globalização da indiferença (Francisco,Mensagem...). Quer fazer a prova? Mãos à obra!
Fraternalmente e com votos de santa peregrinação quaresmal!
 

 

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