"O
Barulho adoece, o Silêncio Cura” (Frei Patrício Sciadini, OCD)
“Estamos
entrando na QUARESMA, quero lhe propor um exercício de silêncio, onde será
frutuosa a experiência com a ESCADA DO SILÊNCIO. Como a QUARESMA se discorre ao
longo de 6 (seis) semanas, sugiro que se faça a meditação de dois degraus por
semana. Dessa forma, ao final, os frutos para a Páscoa do Senhor, terá um novo
entendimento para a vida interior e para o crescimento espiritual, para o bom
uso das obras criadas e para o relacionamento com os irmãos, mas sobretudo,
para a INTIMIDADE COM DEUS.”
(Alma
Carmelita)
Conheça
e decida-se por uma Quaresma diferente:
"Chega-se
ao silêncio de todo o nosso ser, silêncio que evita o barulho, o desgaste físico
e mental, não de um dia para o outro, mas lentamente. É caminho. Não devemos forçar
o passo, porque cansaremos com facilidade e nunca chegaremos à meta. Mas devagar
se vai ao longe'. Toda a nossa vida interior é silêncio, e Deus, nos recorda, João
da Cruz, pronunciou uma única palavra, que é seu Filho, seu Cristo. Ele a pronunciou
em silêncio e é em silêncio.
A
mística Maria Amada de Jesus, carmelita descalça, nasceu na Normandia, em 1839
e faleceu
em 1874. Fez-se carmelita em 1859, teve noites escuras duras e terríveis. Escreveu
os DOZE DEGRAUS DO SILÊNCIO, que vamos comentar um pouco. São caminhos que
podem curar nossas feridas, as doenças abertas pelo BARULHO. (Comentário de
Frei Patrício, Ocd.)
PRIMEIRO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
Falar
pouco com as criaturas e muito com Deus.
É o
segredo para começar a cura pelo silêncio: Redescobrir Deus como amigo, como
médico, como aquele que vem em nosso socorro, nos ESCUTA a cada momento e nos
convida a entrar em comunhão com Ele. O falar muito com as criaturas nos leva a
uma hiperagitação. O silêncio da Prudência e da Sabedoria é o silêncio que
devemos ter nas conversações, nos encontros. Não é raro que falemos mais forte
com “nossos silêncios” que com as palavras. Há silêncios que apavoram, gritam e
condenam o palavreado vazio de tantas pessoas.
SEGUNDO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
Silêncio
no trabalho, silêncio nos movimentos.
Vimos que
o silêncio não é, de forma alguma, mutismo, alienação, afastamento dos outros,
porque não somos capazes de dialogar, ou de entrar em comunhão. É uma atitude
interior que nos leva saber fazer tudo com amor e com recolhimento. Por que
deixar que a agitação e o barulho entrem em nós e coloquem nossa morada interior
numa confusão insuportável? Os mestres da vida interior nos ensinam que tudo
deve ser feito com calma, com silêncio, evitando qualquer barulho que possa
perturbar a nós mesmos e aos outros. SILÊNCIO no andar, SILÊNCIO dos olhos, dos
ouvidos, da voz. SILÊNCIO de todo o exterior, preparando a alma a unir-se a
Deus.
TERCEIRO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
Silêncio
da imaginação.
A
imaginação é boa, é um dom de Deus e devemos aproveitá-la na nossa oração e na nossa
memória, para reviver momentos de ação de graças, de alegria e também de dor, de
pecado para purificar-nos cada vez mais e estarmos prontos para receber a graça
da fonte de Deus que jorra em
nós. Porém, a imaginação, pode tornar-se uma fera violenta,
que, como tempestade, nos leva longe e sempre fora da nossa casa interior, quando
nos faz perder o contato com a vida de cada dia, isso se faz terrível e
doloroso. Aí adoecemos na alma, nos tornamos tristes, preocupados.
QUARTO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
Silêncio
da memória.
Nada de
mais belo que a nossa memória. Jesus nos mandou celebrar Sua Memória, torná-Lo
Presente, Vivo e Real no Sacramento da Eucaristia. A memória não é o reviver da
imaginação, mas o recordar e, com força da vontade, tornar presente. É uma
mística Eucarística que vivemos no nosso dia-a-dia. É necessário silenciar a
memória para que possamos não nos deixar alienar da nossa realidade cotidiana.
Esvaziar-nos de nós mesmos. A MEMÓRIA DEVE SER RECONHECIMENTO, AÇÃO DE GRAÇAS
por tantas Misericórdias que Deus tem feito em nós. Vale a pena meditar
com o canto da memória agradável e vivo do MAGNIFICAT, por exemplo. Recomendação:
Não se deixe influenciar pelas suas memórias, ou se condicionar por elas. Não
podemos viver de saudosismo, é necessário viver de vida, de esperança e de
amor. Nossa memória deve ser vivida, atualizada, e o é assim no Mistério da
Eucaristia de Cristo, que nos dá nova força para caminharmos para nosso futuro.
QUINTO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
Silêncio
com as criaturas.
Falamos
demais. Isso prejudica a saúde física, psíquica, espiritual. Não importa do que
falamos. O que importa é falar e falar muito. Parece ser um impulso
incontrolável. Temos uma tendência de fazer monólogos longos, que nunca irão
preencher e curar as doenças terríveis da solidão humana. É necessário sim, ter
uma lembrança das criaturas de Deus. Sua Criação traz em si mesma a figura do
Criador, do Senhor. A Natureza nos fala e nós podemos falar com Ela. Como não
lembrar a voz das Criaturas do Cântico de Daniel (Dn 3)?
SEXTO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
O
Silêncio do Coração.
Somos
levados a avançar para as águas mais profundas do silêncio. É necessário entrar
agora no silêncio do coração. Silenciando tudo o que está fora de nós e dentro
de nós. Nada pode perturbar nossa paz interior; nem as criaturas, nem a
memória, nem a imaginação. Tudo é paz. Deixemos, neste caso, tomar-nos pela mão
da Virgem Maria e por Cristo Jesus, onde tudo é silêncio.
SÉTIMO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
Silêncio
da natureza.
Silenciar
a natureza humana que vive revoltada com o mínimo vento de dor, de contrariedade,
é uma obra lenta, fruto de paciência e de tempo. Não devemos nos revoltar nem
achar que tudo isso se dá à toque de caixa. Temos de saber que sem um grande
esforço nunca ficaremos curados de nossas feridas físicas e espirituais. Devemos
silenciar o orgulho, o amor-próprio ferido, nos afastar das situações que podem
nos levar a críticas inúteis e desfavoráveis aos outros e a nós mesmos. “De
toda palavra ciosa que pronunciarmos, daremos conta a Deus”. Devemos saber
dominar o desejo de vingança, muitas vezes travestido de justiça, de zelo e de
verdade.
OITAVO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
Silêncio
do espírito.
É um
ponto muito importante para não adoecer:... de orgulho, de superioridade, de
“insubstitutividade”, de” tudo eu faço e sou melhor “- doença terrível, dentro
e fora da Igreja. O silêncio do espírito nos leva a agir somente pela Glória de
Deus, pois para quem busca a viver a santidade não pode existir duplicidade de
vida. Está comprovado que a “ambiguidade de vida” é fonte de sofrimento e
doenças físicas e psíquicas. Como pode viver tranquilo e com saúde quem trai os
amigos, a esposa, o esposo, ou vive com constante medo do que faz, ou ainda,
aqueles que não cumprem com os seus compromissos ou com a palavra dada? É o
silêncio do espírito que devemos procurar na paz da nossa consciência mais
íntima e profunda do ser.
NONO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
Silêncio
do julgamento.
Não
julgar é também um mandamento de Jesus: “não julgueis e não sereis
julgados”. Para que deixar a ânsia e a angústia de julgar entrar em
nosso coração? Silenciar o julgamento não é renunciar a emitir nossas opiniões.
Estas devem ser conformes à verdade e nada mais. Não devemos impor nosso ponto
de vista. Quantas vezes a imposição da nossa maneira de pensar e de julgar, nos
levam ao isolamento, à marginalização ou ao sofrimento físico e espiritual.
DÉCIMO
DEGRAU DO SILÊNCIO:
Silêncio
da vontade.
É o
silêncio nas angústias do coração e nas dores d´alma. É o silêncio de uma alma
favorecida por Deus e que, sentindo-se repelida, não pronuncia estas palavras
como: “Por quê? Até quando?”. É o silêncio do abandono... Silêncio ante a
severidade do olhar de Deus... Silêncio sob o peso da Mão Divina. Silêncio cuja
única queixa é a do amor. É o silêncio da Crucifixão. É o silêncio dos
mártires. É o silêncio da agonia de Jesus. Enquanto essa vontade humilde e
livre - verdadeiro holocausto de amor – procura aniquilar-se para glorificar o
Nome de Deus, Deus a transforma em sua vontade.
DÉCIMO
PRIMEIRO DEGRAU DO SILÊNCIO:
Silêncio
consigo mesmo.
Uma das
piores doenças é “monologar consigo mesmo”, falar e, falar consigo mesmo dos
próprios problemas, dificuldades, dramas, traumas e doenças. Torna-se um
círculo vicioso a partir do qual não conseguimos ver a vida com os olhos límpidos
e transparentes. Para que ruminar o dia todo e a noite inteira as situações
conflitantes da vida? Não é melhor dar a volta por cima e lançar-se nos braços
de Deus, e rezar com calma o Salmo 130? Este Salmo é do silêncio interior,
fruto de ascese e de oferta de si mesmo a Deus.
DÉCIMO
SEGUNDO DEGRAU DO SILÊNCIO:
O
Silêncio com Deus.
O
silêncio com Deus consiste em ter a certeza no nosso coração do amor do Senhor,
de não duvidar Dele, mesmo que nada sintamos. É deixar-se amar por Ele. É
talvez o silêncio mais doloroso do ser humano, que em determinados momentos se
sente abandonado por todos e até mesmo por Deus. É o grito que surge dentro de
nós: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Sl 21)”. Esse grito não é
falta de fé. Ele é à força da natureza que se rebela diante da dor, da solidão,
da doença. Mas Deus sempre vem em nosso socorro. Confirmamos esta experiência
com os textos: Dt 6, 4-5/Is 43, 1-5.
“O
Barulho Adoece e o Silêncio Cura” (Frei Patrício)