Neste ensolarado domingo de inverno, o Papa acolheu milhares de fiéis,
romanos e turistas na Praça São Pedro e rezou com eles a oração dominical do
Angelus. Como sempre, Francisco fez um breve discurso, comentando o Evangelho
do dia e saudando os grupos organizados que vêm a Roma para este encontro. A
passagem do Evangelho de Mateus que narra o chamado ‘discurso da montanha’, a
primeira pregação de Jesus e sua atitude diante da Lei Hebraica foram o tema da
reflexão do Papa. “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim
ab-rogar, mas cumprir”, afirma Jesus, que não queria cancelar os mandamentos,
mas cumpri-los. Mas – questionou Francisco – o que significa ‘cumprir
plenamente’ a Lei? E no que consiste a justiça superior? É o próprio Jesus a
responder, comparando a Lei antiga com o que Ele diz, a partir do quinto
mandamento: ‘Não matarás’. Improvisando, o Papa acrescentou: “Quando se
diz que uma pessoa é ‘linguaruda’, significa que faz mexericos. As fofocas
podem matar a fama, o nome de uma pessoa; é tão feio difamar os outros. Se não
fizéssemos fofocas, poderíamos ser santos. Queremos ser santos?” -
perguntou o Papa aos fiéis. “Então evitemos mexericos”. Com isso, Jesus
nos recorda que também as palavras podem matar! Não se deve ameaçar a vida do
próximo, mas menos ainda derramar nele o veneno da ira ou feri-lo com a
calúnia. Jesus propõe a quem o segue a perfeição do amor: um amor cuja única
medida é não ter medida, ir além de qualquer conjetura. “O amor ao próximo é
uma atitude tão fundamental que Jesus afirma que nossa relação com Deus não
pode ser sincera se não fizermos as pazes com o próximo”, disse o Papa,
citando Mateus 5,24: “Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai
reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta”.
“Por isso somos chamados a nos reconciliar com nossos irmãos antes de
manifestar devoção ao Senhor na oração”. Este episódio explica que Jesus
não dá importância simplesmente à disciplina e à conduta exterior. Ele vai à
raiz da Lei, priorizando a intenção e indo ao coração do homem, a origem de
nossas ações, boas ou más. “Para termos um comportamento bom e honesto, não
são suficientes normas jurídicas, mas motivações profundas que brotam da
sabedoria de Deus e da ação do Espírito. Tendo fé em Cristo e abrindo-nos a
esta ação, viveremos o amor divino. Este ensinamento de Cristo – concluiu o
Papa – nos revela que a plenitude dos mandamentos se exprime realmente no
Amor e que todos se unificam no maior deles: “Ame Deus de todo o coração e o
próximo como a ti mesmo”.
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