Papa Francisco celebrou, na manhã deste sábado, missa na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, na qual participou um grupo de cerca de 70 pessoas provenientes de diversas partes da Itália e de outros países. A celebração foi sóbria, mas muito emocionante; reinava um clima de grande recolhimento e participação, com uma plena sintonia entre o Papa e os presentes. Concelebraram com o Santo Padre, entre outros, o Cardeal Agostino Cacciavillan e diversos sacerdotes diocesanos e religiosos, de diversas nacionalidades. O Papa fez uma breve reflexão, quase que sussurrada, mas de conteúdo bem concreto, com base no evangelho deste sábado, que diz: “Deixai vir a mim as criancinhas”. Neste ponto Francisco foi bem explícito: como Jesus falava em parábolas aos seus discípulos e ao povo que o seguia, assim Papa Francisco citou diversos exemplos, partindo da sua experiência de pastor.
Por isso, o Santo Padre disse aos presentes: “devemos aprender a lição que Jesus nos dá com a página evangélica de hoje. Em sua vida pública, ele era sempre seguido por numerosas pessoas, sedentas de ouvir suas palavras. E aproveitava o ensejo para abraçar as pessoas, acariciar e beijar as crianças. Assim, referindo à Liturgia deste sábado, Francisco recordou que Jesus repreendeu seus discípulos, porque não queriam deixar as famílias se aproximassem de Jesus com seus filhos para que ele as tocasse. De fato, diziam que Jesus estava cansado e tinha muitos afazeres e compromissos... Diante desta atitude dos discípulos, Jesus ficou indignado e disse: "Deixai vir a mim os pequeninos; não os impeçam, pois a eles pertence o Reino de Deus".
E citou alguns casos concretos do comportamento dos cristãos de hoje: por exemplo, dois noivos foram à igreja para marcar o casamento e o sacerdote lhes perguntou se haviam preparado os documentos. E eles disseram que sim. A seguir, antes de marcar o dia do casamento, disse aos noivos, mas não se esqueçam de pagar os enfeites da igreja, as flores, os cantos etc. etc. E o Papa contestou este comportamento dizendo que os noivos queriam legalizar sua união perante Deus, mas encontravam as portas da Igreja fechada quase como sinal de impedimento para a sua união. O Papa citou ainda, entre outros, o exemplo de uma mãe solteira que foi à igreja para batizar seu filho e, aqui, também encontrou a porta fechada, por não ser casada. Por isso, o Santo Padre expressou sua amargura pelas tantas portas que a Igreja fecha aos cristãos que querem se aproximar de Jesus. E concluiu acrescentando aos sete Sacramentos da Igreja mais um, o oitavo: “O sacramento da alfândega pastoral”.
"A solidariedade não é uma 'esmola' social"
Papa Francisco recebeu na manhã deste sábado cerca de 500 pessoas integrantes da Fundação Centesium Annus Pro Pontificie : leigos que se empenham em aprofundar e difundir, na sociedade, na economia e no trabalho, o magistério social. A Fundação Centesimus Annus foi instituída pelo Beato João Paulo II há vinte anos, e seu âmbito de reflexão e ação é a doutrina social da Igreja. Seus membros participaram do congresso internacional que teve o tema “Repensar a solidariedade para o emprego: Os desafios do século XXI”.
“O que significa repensar a solidariedade?” – perguntou Francisco aos presentes. “Para mim – respondeu – significa duas coisas: conjugar o magistério com a evolução sócio-econômica; e refletir para fazer emergir a fecundidade do valor da solidariedade”.
Para o Papa, a atual crise econômica e social torna ainda mais urgente este “repensar”, porque o fenômeno do desemprego está estendendo de modo preocupante os confins da pobreza. “Alguma coisa não está funcionando em todo o planeta, e não só no sul do mundo”, alertou. “Repensar a solidariedade não é simplesmente ajudar os mais pobres, mas repensar globalmente em todo o sistema: como reformá-lo, como corrigi-lo em modo coerente com os direitos fundamentais do homem, de todos os homens. A esta palavra, “solidariedade”, não bem vista pelo mundo financeiro, é preciso restituir a sua merecida cidadania social".
O Papa voltou a falar sobre a crise. Segundo ele, a atual não é somente uma crise econômica, pois tem raízes éticas e antropológicas: “Seguir os ídolos do poder, do lucro, do dinheiro, passando por cima do valor da pessoa humana, é hoje uma norma fundamental de funcionamento e um critério de organização. Esquece-se que acima dos negócios, da lógica e dos parâmetros do mercado, está o ser humano, com a sua dignidade profunda”.
“Devemos recuperar a centralidade do homem e termos uma visão mais ética das atividades e dos relacionamentos humanos, sem medo de perder nada”, concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário